sexta-feira, 20 de janeiro de 2012

Assombrações modernas

Leda Nagle, O Dia

      Rio - Quando eu era pequena, escutava muito a expressão “Quanto mais eu rezo, mais assombração me aparece”. Minha mãe dizia esta frase sempre que alguém fazia algum tipo de maluquice ou quando algo inusitado acontecia. Imagino que, se ela estivesse viva, nos dias de hoje não falaria outra coisa o dia inteiro. Quer um exemplo? Leio na Internet que, na Argentina, duas senhoras de mais de 70 anos, gêmeas, foram encontradas mortas, já mumificadas, no seu amplo apartamento na Recoleta, bairro nobre de Buenos Aires. Devem ter morrido no começo de agosto, intoxicadas por monóxido de carbono, diz a polícia, que não encontrou sinais de violência no apartamento avaliado em 500 mil dólares, que ocupava todo o quarto andar do prédio. Os vizinhos sentiram o mau cheiro vindo da residência, mas não quiseram se envolver e, por isto, durante todos esses meses, não chamaram a polícia. Mas, em novembro, irritados com o não-pagamento do condomínio, entraram na Justiça contra as duas senhorinhas. Se entendi direito, as gêmeas de 73 anos poderiam ficar ali mortas para sempre se o condomínio estivesse em débito automático no banco. A notícia também explicava que o síndico não tomou providências porque, segundo ele, o síndico só responde pelas partes comuns, “o que acontece dentro dos apartamentos é questão de cada um”.
      É ou não um tempo esquisito este tempo que estamos vivendo? Não sei se as pessoas estão ficando piores, mais individualistas ou, como prefere um amigo meu, mais pragmáticas. Não sei também se a gente fica sabendo, hoje em dia, de mais maluquices do que sabia antes, quando a Internet não existia. Ou se os surtos de todo tipo estão mais frequentes hoje do que antigamente. Mas não me lembro de ler tantas notícias, por exemplo, sobre matança de animais como tenho lido nos últimos meses. É a enfermeira que mata o cãozinho na frente da filha de 3 anos em Goiás. Uma outra atirou os cães e os móveis pela janela em São Paulo, outra matou 10 cachorros a pauladas no Rio. Chocante.
      Mas há também quem surpreenda tentando ajudar. Um arquiteto holandês fez um projeto urbanístico para melhorar a vida da fauna e da flora nas grandes cidades. Ele quer construir um prédio de 30 metros de altura e mais 6 ou 8 metros sob a superfície, que pode ser feito nos rios e lagos de uma cidade para servir de refúgio para plantas, animais marinhos e pássaros, que pode custar 16 milhões de reais e que pode ajudar a salvar rios poluídos e absorver as águas das chuvas. Eu não disse? Quanto mais eu rezo, mais assombração aparece. Até mesmo a Luiza, que estava no Canadá...



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