quarta-feira, 28 de julho de 2010

Já começou...

Hoje cedo, no telejornal da Intertv, ambulância da prefeitura municipal de campos dos goytacazes com material de propaganda eleitoral do PR.

sábado, 24 de julho de 2010

Passinho à Frente

Duas Lições de Transporte Coletivo
Arthur Dapieve
O Globo
07/08/2009

No dia 1º de dezembro de 1955, a costureira Rosa Louise McCauley Parks, de 42 anos, voltava para casa depois do trabalho, em Montgomery, Alabama, EUA. Embora já fosse uma ativista dos direitos civis dos negros, ela sentou-se, como mandava a lei local para as pessoas de sua cor, nos bancos traseiros do ônibus municipal. Rosa aboletou-se na primeira fila após os assentos reservados para passageiros brancos.
Conforme o ônibus avançava pelo centro de Montgomery, os passageiros brancos ocuparam todos os lugares a eles destinados, dois ou três até viajavam de pé na frente do veículo. Notando isso, o motorista decidiu, como era de praxe, aumentar a área reservada aos brancos em uma fileira. A fileira já ocupada por passageiros negros, inclusive Rosa Parks. Ele parou num ponto e acenou para que os quatro negros fossem para o fundo do veículo.
Três deles imediatamente acataram a ordem. Rosa trocou de assento, mas pulou para o da janela. O motorista branco, James F. Blake, ficou estupefato e perguntou se ela não iria se levantar e ceder seu lugar a um passageiro branco. Rosa respondeu que não: “Eu não acho que deva me levantar”. Ele então comunicou que chamaria a polícia. Ela disse que tudo bem, ele que fosse em frente. E assim foi feito. A costureira foi presa e fichada.
Apesar de não ter sido a primeira negra a se recusar a ceder lugar num ônibus americano a um branco, Rosa foi a primeira cujo ato ultrapassou a dimensão de revolta individual e alimentou todo o movimento pelas liberdades civis. O reverendo Martin Luther King Jr., de 26 anos, acorreu a Montgomery e coordenou o boicote da população negra- ou 75% dos usuários do sistema- aos ônibus da cidade. O protesto durou 381 dias.
A agenda dos manifestantes era moderada. Eles pleiteavam um tratamento cortês, a contratação de motoristas negros e a desobrigação de ceder lugar aos brancos. As autoridades ignoraram as reivindicações,e a reação dos racistas explodiu mais de uma casa na comunidade negra. O caso foi parar na Suprema Corte, em Washington, que declarou a inconstitucionalidade da segregação nos ônibus públicos. O resto é História, mas também é presente: Barack Obama, tal como o conhecemos, não existiria sem Rosa Parks.
No dia 28 de julho de 2009, a aposentada Luzia de Jesus de Oliveira, de 63 anos, entrou num ônibus de Rio Verde, Goiás, Brasil. Ela recusou-se a pagar a passagem de R$2, invocando recente lei municipal que concedera gratuidade a quem tem mais de 60 anos. O motorista Célio Martins e a trocadora exigiram que Luzia ou pagasse a tarifa ou saltasse do veículo. A aposentada declarou que não faria nem uma coisa nem outra.
Com o impasse, os outros passageiros desceram do ônibus, parado por 40 minutos. O motorista ligou para a empresa Paraúna e recebeu intruções de chamar a polícia. Quem também chegou ao local foi uma agente de trânsito, Idelma Lopes da Silva, que deu razão à aposentada, aplicou à empresa multa de R$150 (a quarta desde que a lei foi aprovada, em junho) e ordenou que o veículo seguisse viagem. Como era de se esperar, o patrão disse que nada teve a ver com a decisão de seu funcionário de desrespeitar o direito da idosa.
-Eu estou aqui mais é para defender a minha classe, que é de 60 anos, a nossa terceira idade- disse Luzia, ainda pela janela do ônibus parado, à equipe da afiliada da Rede Globo que registrou o seu protesto.- Não só os idosos de Rio Verde, ma de qualquer lugar do Brasil. Eles têm que aprender a respeitar a terceira idade!
Num momento em que a politicalha das “pessoas incomuns” esgota o estoque de Plasil nos postos de saúde, talvez fosse o caso de olhar mais para as pessoas comuns. Como Luzia. Tanto ela como Rosa Parks lutaram contra o preconceito. Uma contra o racismo, outra contra algo que não ousa dizer o seu nome, mas que poderíamos passar a chamar de “etarismo”. A principal diferença, porém, está em que a americana protestou contra uma lei injusta, ao passo que a brasileira teve de protestar a favor da justa aplicação da lei.
Isso diz muito sobre as duas nações.
Há dois outros aspectos particularmente interessantes no protesto de dona Luzia. O primeiro é o próprio protesto de uma cidadã consciente de seus direitos, coisa rara neste país tão passivo, no qual apenas entidades de classe às vezes se manifestam (quando não foram cooptadas pelo Estado, claro). Não surpreende, portanto, que os outros passageiros da viação Paraúna tenham apeado, conformados, sem na hora demonstrar solidariedade a Luiza (exceto, talvez, ligando para a redação da emissora de televisão).
Em Montgomery, há quase 54 anos, Rosa foi a única a bater o pé dentro do ônibus, mas na esteira do seu gesto elevou-se a onda da luta pelos direitos civis dos negros.
O segundo aspecto interessante no protesto de Luzia foi o uso que ela fez da palavra “classe”. Ela tem, literalmente, consciência de classe. Pois foi em nome de sua classe, “de 60 anos”, que marcou posição dentro daquele ônibus para do em Rio Verde. Essa tomada de consciência é condição imprescindível para a ação. Ou para a inação, que também pode ser revolucionária, no sentido mais puro, o de renovar mentalidades e comportamentos.
O ônibus no qual Rosa Parks recusou-se a se levantar hoje está no Museu Henry Ford, em Detroit, cidade para onde ela teve de fugir, em 1957, e onde morreu, aos 92 naos.

sexta-feira, 16 de julho de 2010

Concerto Sinfônico Internacional

Promoção da ONG Orquestrando a Vida e do Centro de Cultura Musical de Campos dos Goytaczes.
Dia 18/07/2010, 16 horas, Teatro Municipal Trianon.

Da Importância da Memória

Maria Clara Bingemer (teóloga e professora da PUC)
Jornal do Brasil, 21/09/2009

O grande filósofo Martin Heidegger afirma que “a memória é o recolhimento do pensar fiel”. Com isso, quer dizer que ela protege e guarda consigo tudo aquilo que é importante, que faz sentido, que se antepõe e antecede mesmo aos fatos como seu sentido.
Tudo aquilo, enfim, que se propõe ao pensamento como conteúdo digno de ser refletido e recordado. Por isso, a memória é a condição de possibilidade da cultura, da civilização, de tudo que o ser humano constrói sobre a terra.
Em termos teológicos, a memória é o que permite não perder a Palavra revelada e acolhida na fé; a identidade do Deus pessoal que se revela, diz seu nome e mostra seu rosto e deseja ser reconhecido.
Pela memória se narra e se conta, sempre de novo, a história dessa experiência, desse diálogo, dessa identidade. E tudo isso para fazer memória, para poder testemunhar para as novas gerações, para não deixar esquecer aquilo que fez e deve continuar fazendo a humanidade: viver, sofrer, rir, pensar, falar e conhecer.
Existe a memória da alegria, do amor vivido e realizado, dos momentos vividos juntos. Memória dos rostos sorridentes, das palavras trocadas, dos gestos de carinho sentidos sobre a pele que, tocada, se sente vibrar de vida e gozo. É recordação que ajuda a viver e concede doçura ao mais duro cotidiano.
Mas existe também a memória da dor, que arrasta para a visibilidade e a frente do proscênio a dor das vítimas diante dos poderes alimentados pelo princípio de domínio. A memória da dor não fala em termos abstratos, do “ser humano” ou da “humanidade”. Fala do outro concreto: do desespero das viúvas que se lançam impotentes sobre o caixão do companheiro; do choro das crianças órfãs que gritam sem entender por que seu pai jaz no chão perfurado por balas e granadas; dos rostos emagrecidos e famintos dos que vivem em continentes que as grandes potências riscaram dos mapas. Fala do holocausto nazista... e dos expurgos stalinistas e de seus milhões de vítimas que têm nome, endereço, um número tatuado na pele do braço e uma estrela amarela costurada na roupa.
Quando há olvido dessa dor e desse sofrimento, começa um processo lento de desumanização de um povo ou de uma cultura. Por isso filósofos como Adorno, teólogos como Johann Baptist Metz enfatizam a importância da dimensão subversiva da memória. E subversiva porque não deixa esquecer e traz vítimas para o centro da atenção. É subversiva porque não deixa desaparecer na noite dos tempos o mal praticado, a justiça desprezada e põe em evidência o processo de extinção da tradição que começa a crescer, ameaçando sufocar a dignidade humana e empurrar em direção à desumanidade.
A memória reclama uma razão anamnética, um modo de pensar que não reduza o sujeito a uma abstração conceitual sem referência à história e aos processos sociais. E assim reivindica o direito de ser uma mediação crítica para a prática humana. Seu instrumento é por excelência a narrativa. A narrativa é a morada da memória. Assim nasceu o cristianismo, quando os discípulos do Nazareno narravam uma e outra vez a história daquele que passara pela vida fazendo o bem, que fora morto violenta e injustamente, mas que Deus ressuscitara e agora se encontrava vivo em meio a eles.
Assim acontece igualmente com as vítimas da história que, nomeadas e narradas pela memória, permanecem vivas, e se mantém acesa a chama de suas vidas que clamam por justiça. Não se trata de um mero amor às tradições, mas o desejo de criar e formar uma comunidade de solidariedade com as vítimas da história, que interrompe as tentativas de calar e amordaçar a verdade que os sistemas totalitários de todos os tipos carregam em seu bojo. A memória resgata a narrativa ardente do passado e o atualiza para transformar o presente. Rememora acontecimentos com urgência de futuro, criando uma solidariedade que olha longe e vê além das aparências.
Um país sem memória vai pouco a pouco vendo desaparecer e esfumar-se sua identidade verdadeira. Abre espaço para retornos indesejados e varre para as sombras de um equivocado esquecimento presenças luminosas cujas vidas deveriam ser narradas uma e mais vezes, a fim de iluminar o caminho das novas gerações. Esperemos que o Brasil não entre nessa lista.
Seria desastroso e indigno da grande nação que é.

quarta-feira, 14 de julho de 2010

É dureza...

Acordei hoje já assistindo no jornal da Globo suspeitas de corrupção na compra de remédios pela secretaria de saúde do Estado do RJ. É...