domingo, 7 de outubro de 2012

Claudio Weber Abramo: Vítimas e culpados

O Dia


Rio -  Faz muito tempo que o anúncio dos resultados de eleições no Brasil é acompanhado da constatação de que os eleitos, em particular para o Legislativo, formam contingente de baixa qualidade. Não são poucos aqueles que (como este que escreve) julgam que a qualidade esteja decrescendo. A isso costumam seguir-se considerações sobre a responsabilidade de quem leva políticos desclassificados ao Legislativo — a saber, os eleitores. Daí a se engatarem lamentações a respeito da consciência (ou falta dela) do eleitor é um passo. Ora, o que acontece com os diagnósticos baseados na consciência do eleitor é que transformam a vítima em culpado.
O eleitor é vítima por vários lados. Há o lado da informação. Para votar direito, o sujeito precisa ter informação adequada a respeito da política e dos políticos. Isso não está presente para a vasta maioria do eleitorado. ONGs também contribuem: existem aquelas que dizem defender certos pontos de vista ou interesses, mas que, apesar disso, não geram informação necessária para fazer suas posições conhecidas, inteligíveis e capazes de mobilizar os pretensos beneficiários. Para a desinformação, também concorre a verdadeira multidão de candidatos. É literalmente impossível coletar e divulgar informação objetiva a respeito de todos.
Um segundo aspecto importante que vitimiza o eleitor é a inoperância a que foi reduzido o Legislativo. Devido ao poder desmesurado que os governantes têm de nomear pessoas para ocupar cargos, o Executivo usa essa prerrogativa para comprar o silêncio dos partidos. Tal aquisição é às vezes feita com propinas, como no Mensalão, mas não é a isso a que me refiro. O preço que o prefeito (e o governador, etc.) cobra por lotear a administração entre sua ‘base’ é a neutralização da principal função do Legislativo — a qual não é legislar, mas fiscalizar o Executivo. Como vereadores (e deputados) deixam de exercer seu papel, o que lhes resta para fazer? Gastar dinheiro público para tentar a reeleição.
O eleitor sabe que o Legislativo é basicamente inoperante e a ele dedica a falta de estima que se constata em qualquer pesquisa de opinião. O mesmo não acontece com os candidatos a prefeito — o escolhido é lembrado por quem votou anos depois. Ao contrário do que dizem os comentaristas do facilitário, o eleitor não é inconsciente em relação à distribuição de poder. O que acontece é que ele sabe perfeitamente bem onde reside o poder.
Diretor-executivo da Transparência Brasil

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