Rio - Atraído pela exuberância das vestimentas, eu não podia perder o belo ‘Globo Repórter’ de sexta, sobre a recôndita tribo dos índios do Mato Grosso que preservam (graças a Deus!) seus sete meses de rituais por ano. Fazem isso porque sabem que precisam respeitar a natureza, pois dela vem tudo. É maravilhoso ver como estes, considerados primitivos, indígenas amazônicos ( e os africanos, e os papuas), sempre bateram na tecla de que é preciso preservar a floresta, as águas. Agora vem os caras pálidas, gastando milhões, fazendo um carnaval com a Rio+20, para concluir o mesmo, como se tivessem descoberto a pólvora. Meus amores, enquanto vocês não souberem ouvir a voz que vem do imemorial tempo, não adianta ser rico, sendo surdo. É preciso sensibilidade para enxergar as relações sustentáveis dos grupos sempre menosprezados, que sobreviveram sem ganância. A curto prazo, o melhor é os donos do mundo arrancarem seus paletós e terninhos, pintarem seus corpos de urucum e fazer uma pajelança.
Foi aí que ouvi o narrador do programa dizer: “Estes índios acreditam no sobrenatural, que são os espíritos da floresta que mandam as doenças...” Para o mundo que eu quero descer: olha Chapelin e o redator, não são só eles que acreditam no sobrenatural, não. Quando vocês vão a missa comungar, achando que hóstia é corpo de Cristo, quando vocês celebram a Páscoa e a ressurreição, vocês também estão no campo do sobrenatural, meus amores. Ah, como é? Quer dizer que os espíritos dos pobrezinhos dos indiozinhos são piores, ou menores, que o Deus católico de vocês? Foi por isso então que o Pastor chutou a Santinha de vocês, né? Porque ele a considera sobrenatural, menor, menos importante, desprovida de respeitabilidade.
O homem branco sempre colocou o sobrenatural fora dele. Esta é a desgraça. Sobrenatural é o vodu, macumba, candomblé, tupã. Natural é tocar sineta em Missa, andar sobre as águas do Oriente Médio em milagres que são superaceitáveis. Inaceitável é a gente da floresta querendo convencer que a mata verdejante tem seus espíritos.
De um lado primeiros-ministros, presidentes, chefes de estado: a voz que manda naturalmente. De outro lado a Cúpula dos povos — mulheres, índios, pescadores da Sibéria: a voz que desobedece. Enquanto a gente continuar dizendo que sobrenatural é o do vizinho, não teremos dado nenhum passo para a solução.
Foi aí que ouvi o narrador do programa dizer: “Estes índios acreditam no sobrenatural, que são os espíritos da floresta que mandam as doenças...” Para o mundo que eu quero descer: olha Chapelin e o redator, não são só eles que acreditam no sobrenatural, não. Quando vocês vão a missa comungar, achando que hóstia é corpo de Cristo, quando vocês celebram a Páscoa e a ressurreição, vocês também estão no campo do sobrenatural, meus amores. Ah, como é? Quer dizer que os espíritos dos pobrezinhos dos indiozinhos são piores, ou menores, que o Deus católico de vocês? Foi por isso então que o Pastor chutou a Santinha de vocês, né? Porque ele a considera sobrenatural, menor, menos importante, desprovida de respeitabilidade.
O homem branco sempre colocou o sobrenatural fora dele. Esta é a desgraça. Sobrenatural é o vodu, macumba, candomblé, tupã. Natural é tocar sineta em Missa, andar sobre as águas do Oriente Médio em milagres que são superaceitáveis. Inaceitável é a gente da floresta querendo convencer que a mata verdejante tem seus espíritos.
De um lado primeiros-ministros, presidentes, chefes de estado: a voz que manda naturalmente. De outro lado a Cúpula dos povos — mulheres, índios, pescadores da Sibéria: a voz que desobedece. Enquanto a gente continuar dizendo que sobrenatural é o do vizinho, não teremos dado nenhum passo para a solução.
Milton Cunha é carnavalesco e Doutor em Ciência da Literatura pela UFRJ. E-mail: chapa@odianet.com.br
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