Rio - Meu amigo, escritor Roberto Drumond, dizia que gostava de ter ídolos que morassem longe, noutros países, de modo que ele, Roberto, que evitava viajar de avião, jamais os conheceria e, por conta disto, não se decepcionaria. Tenho uns poucos ídolos, às vezes entrevisto alguns deles e sempre tive certa dificuldade em me declarar fã. Mas nesta semana, a notícia da morte de Nora Ephron me pegou de uma maneira muito desconfortável. Eu sou fã dela. Roteirista, produtora e diretora de cinema, Nora, uma judia de Nova York, filha de roteiristas de Hollywood, me encantou desde que li seu primeiro livro que me caiu nas mãos e que tinha um título, no mínimo, curioso, ‘Meu pescoço é um horror’.
Nunca soube muito da vida que levava. Só sabia praticamente o que ela contava nos livros. Na capa amarela, do livro do pescoço, um pote de creme. E lá dentro, num texto irônico e impecável, ela falava do envelhecer a partir da imagem que seu pescoço lhe mostrava. Nora também odiava bolsas, na mesma medida em que amava a gola rolê e as echarpes, tudo por conta do pescoço. Eu sei que contando assim parece bobagem, mas não é. O texto é delicioso. Ela se confessava escrevendo, e debochava de suas mazelas o tempo todo. Era uma mulher sofisticada, que começou a vida escrevendo para grandes jornais e revistas, escreveu roteiros de filmes como ‘Harry e Sally, feitos um para o outro’, dirigiu ‘Sintonia do amor’, ‘A difícil arte de amar’, ‘Mensagem para você’ , ‘A Feiticeira’ e, o mais recente, ‘Julie e Julia’, com Meryl Streep.
Não era uma qualquer, como a gente costuma dizer por aqui. Foi indicada várias vezes para o Oscar e tinha câncer, notícia que não deu a ninguém, só à família. Foi casada com o jornalista investigativo Carl Bernstein (do caso Watergate) com quem tinha dois filhos e, atualmente, era casada com Nicholas Pileggi, roteirista do filme ‘Os Bons Companheiros’. Estava com 71 anos. Mas o que vai me deixar a maior saudade são as histórias que escrevia. No último livro que li dela, ‘Não me lembro de nada’, Nora brinca com a memória que vai se perdendo à medida em que os anos passam, faz uma lista de coisas que não quer saber, como o Twitter, e uma lista das coisas que sempre espantam as pessoas, como uma mulher jovem e bela que se casa com homem feio, velho e rico. Nora Ephron se confessava uma dependente do Google, e provocava o nosso riso quando relembrava as festas da casa dos pais, que eram alcoólatras. Taí, eu adoraria ter conhecido esta mulher e vou torcer para Nora Ephron ter deixado um livro inédito.
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