Rio - Outro dia estava pensando como no Brasil algumas questões têm diferentes pesos e ganham diferentes ‘finais’ pelo simples fato de acontecerem com as pessoas ‘certas’. Certas não pelo fato de algo ruim acontecer; mas porque talvez com elas o desenrolar seria outro.
Aproximamos-nos de seis anos do talvez maior acidente do espaço aéreo brasileiro, a tragédia causada pelo jato Legacy, que matou 154 pessoas do voo 1907 da Gol e que ainda espera punição para os culpados.
E se a filha da presidenta Dilma estivesse a bordo? Será que os culpados estariam sem punição? Será que os órgãos competentes não teriam feito uma denúncia internacional? Ou ainda, se fosse alguém próximo ao presidente Obama, será que os culpados ainda teriam seus brevês e continuariam voando livres nos EUA?
Ninguém enxerga que os anos passam e ninguém teve a punição, por menor que ela tenha sido, dada em primeira instância? Mas e as vidas interrompidas? Mais 154 números em um país de estatísticas?
Até um leigo como eu já entendeu que foi comprovada a culpa por negligência, imperícia ou imprudência dos pilotos do Legacy.
Será mesmo que duas pessoas que entram num avião, sem qualquer responsabilidade não deveriam ser condenadas por homicídio doloso? A quem se pede socorro no Brasil, se na situação em que se falta fazer justiça, não tinha ninguém filho de alguém com patente?
Talvez então eu deva torcer para isso acontecer numa próxima tragédia. Mas seria justo isso? Desejar o mal de alguém inocente apenas para que as pessoas ‘certas’ façam cumprir leis e acordos internacionais?
Marcelo Nitsche é técnico mecânico de aeronave, membro da Associação de Familiares e Amigos das Vítimas do Voo 1907
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