Rio -  Há muitas famílias que não têm noção da vida sem limites de seus filhos. Algumas acreditam que as drogas, cujo contato é inevitável (bastando apenas, em alguns casos, o cuidado para adiá-lo), fazem parte do amadurecimento dos jovens e que o direito de experimentar está cada vez mais incorporado como parte natural da vida — embora alguns se entreguem ao vício.
Assistimos a uma geração de pais, como nenhuma outra, que obedece a seus filhos. Para não perder o ‘amor’ dos mesmos, não os contrariam, sem saber que, com essa atitude, não somente perdem o amor, mas o respeito, por manifestar tanta debilidade no exercício da autoridade que precisariam exercer. Como os filhos podem aprender a confiar em pais que apenas se tornam amiguinhos, boas-praças de seus pupilos?
Muitos pais se perguntam o que fazer com o descaso e o egocentrismo dos filhos. Como não podemos mudar o passado — tampouco se torna útil e proveitoso mergulhar em autocondenação sobre aquilo que não se conseguiu enxergar lá atrás —, quando agiam como facilitadores, é necessário olhar o presente com o desejo sincero de alterar a velha concepção sobre a vida. Mudança que começa na forma como nos encaramos e que vai mudar a forma como nos relacionamos com os outros, sobretudo os filhos. Leva tempo, dá trabalho, exige paciência, boa-vontade, honestidade, mente aberta, fé e amor.
Quem não estiver disposto a dizer “não” quando preciso ainda não está preparado para ser pai ou mãe. É bom não lamentarmos os filhos que, de alguma forma, nos decepcionam com suas escolhas, descaminhos e destino. Podemos aprender com eles que pais se constroem, não nascem prontos, e que é sempre hora de aprender a corrigir o curso de nossa comunicação com o outro. É sempre hora de pedir e aceitar ajuda. Descobriremos, então, perplexos, mas não perdidos como antes, que há muito que fazer, viver, compreender, e muito pouco tempo para lamentar.
Psicólogo e ouvidor da Coordenadoria de Promoção da Política de Prevenção à Dependência Química da prefeitura