Rio - Entre as diversas manifestações de violência na escola, existem aquelas que são trazidas de fora, como drogas e o tráfico. A escola já não é mais local neutro, resguardado dos riscos exteriores. É evidente que essa violência traz consequências. Ela é extremamente danosa, pois reproduz o clima de insegurança já comum fora dela e atrapalha o desenvolvimento do processo de ensino-aprendizagem, pois dificulta o foco dos alunos, sobretudo pelo medo sentido pelos professores e demais adultos da escola.
Por muito tempo, acreditou-se que jovens que apresentavam problemas de ordem familiar ou social, ou tivessem famílias não convencionais, seriam os mais vulneráveis ao consumo de drogas. Mas a realidade tem demonstrado não serem estas as causas fundamentais do uso indevido. Observa-se que muitos deles as usam independentemente de sua situação socioeconômica. O apelo das sensações causadas pelas drogas, pela vontade de se arriscar e ultrapassar limites estabelecidos e pela diversão, funciona como chamariz para os adolescentes, por vezes curiosos.
É mister salientar que a constatação de drogas no ambiente escolar não deve ser utilizada para estigmatizar o estabelecimento ou os alunos. Esse tratamento implicaria pensar a eliminação do problema por meio de visão negativa, o que significa utilizar a marginalização, a transferência e a expulsão de alunos. É um passo indispensável à contextualização da problemática discutida dar ênfase aos processos socioculturais que interferem tanto nas motivações que levam ao uso de drogas como no agravamento dos efeitos desse consumo, a fim de que se possa contribuir à discussão a partir de premissas destituídas de determinismos, rotulações e estigmas.
Drogas e violências são temas em evidência na sociedade. Em geral, percebe-se que as perspectivas que colaboram para reforçar estigmas e preconceitos podem comprometer uma postura preventiva e fortalecer, por conseguinte, uma conduta repressiva. Diante de tal contexto, faz-se imperioso enfatizar a importância da educação e dos serviços de atenção especializados; conjugar participação com responsabilidades sociais; resgatar a confiança nas instituições e espaços de socialização e proporcionar oportunidades para atividades culturais, de integração comunitária e trabalhos com a família. Todas essas diretrizes indicam que políticas devem ser firmadas na prevenção de violência.
Miriam Abramovay é coordenadora da Área de Juventude e Políticas Públicas da Faculdade Latino-Americana de Ciências Sociais (Flacso)
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