terça-feira, 27 de março de 2012

Movimentos protestam na frente da casa de acusados de tortura

Por Bruno Bocchini*
Carta Capital


Movimentos sociais fazem manifestações para expor publicamente ex-militares e policiais acusados de tortura, abusos sexuais e homicídios durante a ditadura. Foto: Bruno Bocchini/ABr


      São Paulo – Movimentos sociais, coordenados pelo Levante Popular da Juventude, fizeram na manhã desta segunda-feira 26 manifestações para expor publicamente ex-militares e policiais acusados de tortura, abusos sexuais e homicídios durante a ditadura (1964-1985). Os atos ocorreram em frente à casa ou no local de trabalho dos acusados. As ações estão programadas para ocorrer em seis estados: São Paulo, Rio Grande do Sul, Minas Gerais, Santa Catarina, Pará e Ceará.
      Em São Paulo, a sede da empresa de segurança privada Dacala, do delegado aposentado do antigo Departamento de Ordem Política e Social (Dops), David dos Santos Araujo, foi o alvo da manifestação. Cerca de 200 pessoas – com cartazes que traziam estampados os rostos de presos políticos mortos durante a ditadura – denunciaram a participação do ex-delegado em assassinatos e tortura durante a ditadura.
      O ex-delegado Santos Araujo é acusado pelo Ministério Público Federal (MPF) de participar da tortura e do assassinato, em abril de 1971, do ativista político Joaquim Alencar de Seixas. De acordo com o MPF, o ex-delegado foi reconhecido por parentes da vítima.
      Em 30 de agosto de 2010, o MPF moveu ação pública para que Araujo fosse pessoalmente responsabilizado pelas práticas criminosas. Segundo o relato do atual presidente do Conselho Estadual de Defesa da Pessoa Humana de São Paulo, Ivan Seixas, preso aos 16 anos, junto com o pai, Joaquim Alencar de Seixas, David dos Santos Araujo, o “capitão Lisboa”, estava entre os torturadores.
      “[Ele] era o que mais batia”, disse no depoimento ao MPF. Seixas também contou que, como forma de pressão, os policiais o torturaram e o levaram para uma área deserta e simularam seu fuzilamento. Uma das irmãs de Seixas afirmou ao MPF que foi abusada sexualmente por Araujo.
      “O ato é para pressionar, para que a Comissão da Verdade ocorra de fato. A gente veio para dialogar com quem trabalha com o acusado de tortura. [É para] expor, constranger e denunciar o torturador para quem convive com ele”, disse um dos porta-vozes do movimento, o estudante da Faculdade de Direito da Universidade de São Paulo (USP) Caio Santiago.
      Segundo os organizadores, a manifestação foi inspirada em ações similares feitas na Argentina e no Chile, chamadas de Escracho. “Saímos à rua hoje para resgatar a história do nosso povo e a história do nosso país. Lembramos talvez da parte mais sombria da história do Brasil e que parece ser propositadamente esquecida: a ditadura militar”, diz o texto do manifesto lido em frente à empresa de Araujo, na zona sul de São Paulo.
      A reportagem entrou em contato com a empresa Dacala para tentar ouvir o ex-delegado, mas ainda não obteve retorno.
      O Levante Popular da Juventude surgiu em 2006 no Rio Grande do Sul, com jovens de universidades, das periferias das cidades e do campo. Hoje conta com aproximadamente 200 militantes no país. Também particiaparam do ato em São Paulo membros do Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST), da Consulta Popular e do Comitê Paulista pela Memória, Verdade e Justiça.

*Matéria originalmente publicada em Agência Brasil.




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