sábado, 4 de fevereiro de 2012

Chega!

Leda Nagle, O Dia

      Rio - É no mínimo revoltante ver fotos de operários de obras da prefeitura ou ligadas a ela roubando objetos de quem morreu na tragédia . “Lamentável”, diz uma autoridade. “Delinquentes”, define outra. É de quinta ou de última, digo eu. E, sempre que um absurdo destes acontece, associado a outro absurdo, aparecem uns ‘sem noção’ para dizer ou escrever que isto é fruto da pobreza. Como assim? Quer dizer que pobre é ladrão? Que abuso, que coisa perversa. Todos nós conhecemos pessoas pobres feito Jó que nunca roubaram nada de ninguém. E muita gente rica que rouba. Uma criatura escreveu no meu Facebook a seguinte pérola: “Desculpa gente, mas essas pessoas que se enfiam nos entulhos catando coisas não me causam nenhuma vergonha... eu faria a mesma coisa se vivesse uma vida miserável como a deles...” Como assim? Será que ela desculparia se as coisas roubadas fossem as lembranças e/ou os pertences de seus entes queridos? As últimas lembranças de alguém que você gostava muito e perdeu porque alguém decidiu economizar um dinheiro e pedir a uma moça da administração para fazer um trabalho de engenheiro? Você perdoaria em nome da pobreza?
      Este país precisa começar a punir imediatamente quem, deliberadamente, prejudica ou mata ou rouba o outro. Tudo aqui fica por isso mesmo, numa espécie de casa da mãe Joana gigante. O que é que deu o caso do bonde Santa Teresa? Além de tentarem culpar o pobre do motorneiro, o que aconteceu? Caiu no esquecimento? E o prédio da Praça Tiradentes? Alguém guardava de maneira ilegal botijões de gás que, em local inadequado, explodiram. E quem foi culpado? Aconteceu alguma coisa? Não. Os jornais falam em milhares de obras irregulares. Engenheiros aparecem para explicar a queda dos prédios em dezenas de entrevistas. E aí? O que pode ser feito para evitar? Justiça seja feita, o prefeito se fez presente. Mas e o futuro? O que ele propõe? Todas as perícias, laudos e conclusões só ficam prontos em 30 dias. Ok.
      E, passados 30 dias, por que é que ninguém cobra? Será que tudo se esquece em 30 dias? Será que é preciso comprar uma agenda pra eles, para que não se esqueçam? Por onde andam estas respostas? Será que o pessoal que sobreviveu ao Palace 2 (lá se vão 14 anos) e perdeu parte da família e da memória naquela tragédia recebeu as explicações necessárias e viram a justiça ser feita? Será? Quem permitiu a circulação do bonde? A polícia recuperou o fruto dos roubos nos escombros? Quem se fez de cego diante das obras que derrubaram o edifício Liberdade? E os bueiros? Continuam explodindo e agora se sabe que ainda existem 313 para explodir. Chega de pagar pra ver.

Nenhum comentário:

Postar um comentário