The Economist Intelligence Unit
O início dos Jogos Olímpicos de Londres 2012 não apenas coloca em evidência a capital do Reino Unido, como também chama a atenção para questões mais amplas sobre o valor econômico dos “megaeventos” em geral. Avaliar o impacto líquido desses eventos sobre as economias anfitriãs é extremamente complicado, e há uma tentação dos países candidatos a sediar megaeventos a exagerar os benefícios esperados. Efeitos herdados de investimentos em infraestrutura e renovação urbana podem ter um valor duradouro, mas os argumentos para se realizar megaeventos somente em bases econômicas não são conclusivos.
Um dos grandes paradoxos dos megaeventos é que seu arrazoado econômico não é nada preciso, mas a política leva os possíveis anfitriões a enfatizar esses benefícios de qualquer modo. A história está cheia de casos de Jogos Olímpicos que deram prejuízo, e um certo volume de literatura acadêmica questiona se os megaeventos cumprem suas promessas econômicas e se os organizadores são suficientemente críticos e objetivos em suas avaliações de impacto. Os céticos muitas vezes alegam que sediar megaeventos tem tanto a ver com o prestígio nacional quanto com a economia, e que a teoria do “benefício econômico” simplesmente visa legitimar o que constitui um dispendioso exercício de publicidade.
Isolar o impacto econômico dos megaeventos e definir os efeitos de outras variáveis é capcioso. Eventos como a Olimpíada e a Copa do Mundo de futebol encerram grandes custos de oportunidade. A construção de estádios, instalações e infraestrutura de transporte pode desviar investimentos de outros projetos igualmente válidos (ou mais). O aumento do turismo e dos gastos de consumo durante o evento pode ser compensado por uma redução nas entradas de turistas não ligados ao evento (que talvez prefiram ir a outro lugar para evitar as multidões); e pelos gastos internos reduzidos em outros produtos e serviços ou em outros locais (por exemplo, consumidores do Reino Unido que frequentarem um dos eventos da Olimpíada poderão economizar em outras atividades de lazer habituais para pagar pelo programa).
Esses custos de oportunidade são quase por definição hipotéticos, tornando difícil determinar quanto uma economia teria lucrado se o megaevento em questão não tivesse ocorrido. Estudos de impacto econômico prévios aos eventos invariavelmente projetam o valor do investimento e a receita turística que um evento vai atrair, e o número de empregos que vai criar, mas estes podem ser em uma base grosseira que ignora o deslocamento de uma atividade econômica para outra. Por exemplo, a construção de estádios pode gerar falta de mão-de-obra na indústria da construção, evitando que outros projetos tenham prosseguimento ou aumentando os custos de mão-de-obra. Pelo menos um trabalho acadêmico também alegou, de forma interessante, que estudos pré-evento tendem a superar em número os estudos pós-evento, porque o incentivo de ganhar uma aposta é o principal motivo para se encomendarem essas análises, para começar.
Medir o impacto dos megaeventos também é delicado por outros motivos. A renovação urbana é muitas vezes apresentada como uma das justificativas para os grandes investimentos em infraestrutura. No entanto, algumas dessas renovações poderiam ter ocorrido de qualquer forma, e portanto não devem ser atribuídas diretamente ao evento. Dito isso, o prazo inarredável apresentado por um megaevento pode ajudar a acelerar investimentos muito necessários em áreas desgastadas, ou garantir que o financiamento continue mesmo que a economia em geral se deteriore. (A Copa do Mundo de 2010 na África do Sul acelerou os investimentos em infraestrutura.) Resta o perigo de que o investimento em estádios — apesar de todas as afirmações dos governos anfitriões — deixe pouco em termos de legado econômico depois do megaevento, e que essas instalações posteriormente se tornem subutilizadas, “elefantes brancos” de manutenção dispendiosa. Os países que constroem menos estádios novos e gastam mais em renovação urbana em geral podem desfrutar melhor o legado de seus eventos. De fato, quanto melhor a infraestrutura se entrelaça com as exigências mais amplas da economia anfitriã, maior a probabilidade de oferecer um verdadeiro benefício em longo prazo. A Olimpíada de Barcelona em 1992 é muitas vezes vista como um dos jogos mais bem-sucedidos desse ponto de vista. Segundo um estudo, as instalações esportivas representaram apenas 9% do investimento em construção para os Jogos de Barcelona, assim como outros investimentos se concentraram na renovação urbana em geral.
As questões que cercam a infraestrutura de transporte talvez sejam mais complexas. O argumento tradicional dos críticos é que construir estradas e ramais ferroviários que ligam aos estádios desvia os gastos em transporte para e de locais que têm maior atividade em tempos normais. No entanto, instalações de transporte cuidadosamente planejadas ainda podem fornecer um benefício duradouro para a comunidade como um todo. Em outras palavras, um megaevento terá utilidade dúbia se tudo o que ele fizer for provocar investimentos em rotas de transporte que levam principalmente aos estádios, e não a áreas comerciais e residenciais. Mas se evitar esse perigo a infraestrutura relacionada ao evento poderá deixar um forte legado.
Novo clima
As consequências da crise financeira global de 2008-09 possivelmente adicionaram duas novas dimensões ao debate sobre a economia dos megaeventos. A primeira é que a deterioração das finanças públicas dos países ricos pode aumentar a pressão para que os governos sejam responsabilizados pelos gastos do dinheiro do contribuinte — uma tarefa que, como foi mencionado acima, é especialmente difícil quando se trata de provar que o investimento em megaeventos é o melhor uso do dinheiro público. O pacote de financiamento do setor público para a Olimpíada de Londres 2012 inchou de um orçamento original de 2,4 bilhões de libras (US$ 3,8 bilhões) para 9,3 bilhões de libras (US$ 14,6 bilhões).
A segunda é que os países ricos desprovidos de dinheiro poderão estar menos dispostos no futuro a apostar em megaeventos que se mostraram caros demais para realizar. Isso poderá incentivar as economias mais saudáveis dos mercados emergentes a sediá-los. A demonstração desse argumento é que Brasil, China e Rússia em breve estarão hospedando ou hospedaram recentemente tais acontecimentos. (A Índia, a outra grande economia dos BRICs, ficou embaraçada por sua má condução dos Jogos da Comunidade Britânica em 2010 e poderá não se arriscar a novas desventuras.) Enquanto os países em desenvolvimento podem não enfrentar restrições fiscais tão severas quanto algumas economias avançadas em situação difícil, o argumento a favor da análise crítica e objetiva do custo-benefício talvez seja ainda mais forte no caso deles: os gastos na construção de projetos-troféus podem reduzir os investimentos em infraestrutura básica.
Nenhum comentário:
Postar um comentário