Rio - É provável que o governador Sérgio Cabral nunca tenha ouvido falar do psicólogo americano Abraham Maslow, que criou a teoria da hierarquia de necessidades. Segundo Maslow, as necessidades de nível mais baixo sempre devem ser satisfeitas antes das necessidades de nível mais alto. Daí, surgiu a Pirâmide de Maslow, que tem como base as necessidades físicas, fisiológicas e, no topo, a necessidade de autorrealização.
Se tirarmos a base do indivíduo, ele não tem condições de sobrevivência. Pois eis que o governador acaba de despejar uma unidade de suma importância para a saúde pública para instalar uma escola de... gastronomia francesa. Trata-se da Escola Técnica Enfermeira Isabel dos Santos, dedicada à capacitação de profissionais de saúde para o SUS. A sede, que ficava na Rua da Passagem, em Botafogo, foi cedida ao Cordon Bleu.
O que mais entristece é a justificativa: treinar profissionais de gastronomia para Copa e Olimpíada. Será que ter gente especializada em cozinha francesa é realmente mais emergencial e necessário do que pessoal treinado para atender pacientes? Creio que não. Estamos falando de uma escola que tem a mesma idade do SUS: 22 anos. Foi criada em 1º de novembro de 1989, e no ano seguinte ainda recebeu o nome de uma sanitarista — Enfermeira Izabel dos Santos — que tem importância essencial para o ensino público de saúde. E esta escola não para de inovar em projetos de formação.
E o mais incrível é que recursos previstos no Projeto de Fortalecimento e Modernização da Escola, da ordem de R$ 500 mil, não puderam ser executados devido à “impossibilidade de comprovar a propriedade do terreno como um bem público”.
Ora, se os recursos estavam bloqueados por causa disto, o que aconteceu, que, de repente o impedimento legal desaparece? Fica a pergunta: a democratização da gastronomia francesa chegará antes da democratização do direito a saúde e a educação profissional de nível técnico? O que está na base da pirâmide social de necessidades? Saúde para a população ou escargots?
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