Jornal O Dia
Rio - Moda infanto-juvenil. O que era para ser uma coisa bem simples vem se tornando um tema polêmico. Explico: as roupas fabricadas aqui e lá fora, especialmente para as meninas, se inspiram, cada vez mais, na moda feminina adulta, carregada de sensualidade. Recentemente, algumas lojas de departamento brasileiras começaram a vender sutiãs para meninas de 10 anos com enchimento. Há necessidade?
A publicidade também colabora. Você já deve ter visto muitas propagandas trazendo crianças e jovens vestidos como adultos. Meninos de paletó e gravata e meninas de salto alto e maquiagem. Este último item nem se fala. Batom, brilho, lápis preto e blush fazem parte de qualquer bolsinha de menina. Acredite. Bolsinha que anda para tudo o que é lugar, até mesmo para a sala de aula. Em meio à explicação da professora, lá estão as meninas se olhando no espelho e retocando a maquiagem, porque elas já vêm prontas de casa. A impressão que dá e que só não usam salto porque a escola proíbe.
Práticas como essa só contribuem, infelizmente, para o encurtamento da infância. Talvez alguns pais digam que estou exagerando, que tudo não passa de uma brincadeira infantil. Pintar o rosto, vestir roupas de adultos, imitar o estilo dos pais faz parte da infância, do crescimento saudável de qualquer menino ou menina. Mas uma coisa é brincadeira. Outra, mais séria, é tornar a brincadeira hábito, padrão, norma.
As crianças não têm culpa. Os pais é que deveriam prestar mais atenção nas suas ações e permissões. O mercado — de brinquedos ao vestuário — não está nem um pouco preocupado com regras, normas ou qualquer tipo de ética. Para ele, há muito tempo, as crianças são consumidoras em potencial, mesmo não tendo um real sequer no bolso. A senha para conseguir o que querem é fácil: bater o pé, gritar, exigir e chorar. Como muitos pais acham que a palavra não vai frustrar seus filhos — infelizmente boa parte dos responsáveis ainda pensa assim —, acabam cedendo. Resultado: uma infância cada vez mais curta. Por que e para quê?
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