terça-feira, 3 de abril de 2012

Um grito preso na garganta

Jandira Feghali, O Dia

      Rio - No último dia 29 de março, cerca de 50 anos depois do golpe militar, fomos surpreendidos por um episódio que chocou o Brasil e o mundo: um ato pró-golpe de 64, um elogio simbólico àquele período brutal. A falta de respeito de alguns setores militares para com a decisão do governo democrático brasileiro, em proibição à comemoração de um dos momentos mais vergonhosos vividos no Brasil, culminou com a ação truculenta da Polícia Militar do Rio de Janeiro em resposta à manifestação pacífica, organizada por jovens que almejam e defendem a liberdade e a verdade. Pulmões que deveriam respirar a liberdade respiraram gás lacrimogêneo. Olhos que deveriam conhecer a verdade foram atacados com spray de pimenta.
      Mais uma vez o grito por liberdade foi contido por aqueles que promoveram a morte, a tortura e a tristeza do nosso povo. Uma cena lamentável que nos envergonha frente ao nosso povo e aos nossos irmãos latino-americanos que vêm dando um exemplo de resgatar os crimes praticados por suas ditaduras.
      São mães que não puderam enterrar os filhos. Filhos que não conheceram os pais. Homens e mulheres que carregam cicatrizes profundas, no corpo e na alma, pela tortura física e psicológica.
      A Comissão da Verdade tem a tarefa de colocar à luz do dia todos os crimes cometidos para que, enfim, as famílias possam enterrar seus mortos com dignidade. Um país sem memória é um país que não respeita seus cidadãos e que retrocede no processo democrático. Verdade é um direito que cabe a todos nós exigir.
      Para que não se esqueça. Para que nunca mais aconteça. Ditadura nunca mais! Pela abertura dos arquivos da ditadura e atuação plena da Comissão da Verdade.

Jandira Feghali é deputada federal pelo PCdoB

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