terça-feira, 10 de abril de 2012

Galiléia, Brasil: Lágrimas...

Milton Cunha
Jornal O Dia

      Rio - O ator estava se enfocando de verdade, ninguém sabia, provavelmente o público mudo pensava sobre Judas, o padecimento da traição e o arrependimento. Silêncio sepulcral diante da dor do condenado, com luz magnífica e figurino exuberante. Só que o interprete agonizava de verdade, mas era impossível respirar ou gritar pedindo socorro: “Me tirem daqui, me despendurem, eu vou morrer em Semana Santa, diante da plateia lotada”. Que sufoco, meu Deus!
      É assim que estamos, atônitos, hoje, no Brasil: esta Paixão de Cristo às avessas, com risco de morte para inocentes e bem intencionados, é a cena que melhor nos representa como cidadãos que estão mudos, estatelados, observando apáticos o enforcamento real de tantos Judas na política. Vivemos medindo quantidades de verdade e mentira. De tão irreal, não sabemos mais se é vida ou encenação. Fomos traídos pelos grandes atores que interpretaram magnificamente seus papéis. Jamais desconfiamos e, agora que a corda está apertando, ainda aguardamos a cena seguinte, pois sabemos que os atores poderão ou serão levados para a enfermaria e sairão vivos do que era encenado como seus reais enforcamentos. O fiapo de respiração poderá ser revivido, reanimado pela máquinas da engrenagem despudorada. Caifás, Sarneys, Pilatos, Cachoeiras, Demóstenes, Stephans, eu quero ser Betsabé!
      E deles, o único (?) verdadeiro ator, Stephan Nercessian, contraditoriamente levanta a bola: “Não sei se teria cara de pau para pedir votos novamente”. Eu preciso de ajuda, urge que juntos pensemos nesta calamitosa situação onde quem ganha a vida para interpretar, portanto, um mestre profissional de viver outras vidas; é deste enganador por profissão, que cobra para que a gente possa sentar no cinema ou teatro, ou que ganha para que a gente pare diante da TV para assisti-lo sendo o que não é, este ator é o único que declara que não aguentará mais vir a público para interpretar o bom político.
      Porque dói no ator e as centenas de outros políticos não artistas tiram de letra a cara de pau de, depois do escândalo, pedir de novo para que o elejam? Afinal, Stephan só estaria mais uma vez fazendo o que todos fazem (sendo que ele, talentoso, estudou para isto)! Confesso que não entendo mais nada. Estou diante do Judas, que não é Judas, encenando o enforcamento, que não deveria ser, mas é real, porque o truque não deu certo, a corda de suporte soltou da pulia e o gancho que devia sustentar na costa está puxando o pescoço. Inverteram o drama, tinha que parecer mas não ser, só que agora é. Deu pra entender? Nem eu... Jeová, me acode!
      De tão irreal, não sabemos mais se é vida ou encenação. Fomos traídos pelos grandes atores que interpretaram papéis



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