quinta-feira, 29 de dezembro de 2011

29 de dezembro de 2001: O fim de um furacão indomável. Morre Cassia Eller

Fonte: Jornal do Brasil
Por  Lucyanne Mano

      "Eu só peço a Deus um pouco de malandragem pois sou criança e não conheço a verdade. Eu sou um poeta e não aprendi a amar. Bobeira é não viver a realidade..."
Letra de Cazuza e Frejat

      A roqueira Cássia Eller, 39 anos, morreu no início da noite, na Clínica Santa Maria, na Zona Sul carioca, onde deu entrada horas antes com um quadro de desorientação e agitação. As primeiras notícias eram de que a cantora teria sido vítima de uma intoxicação exógena por consumo excessivo de drogas. E mesmo recebendo os devidos socorros, acabou não resistindo a sucessivas paradas cardíacas. Os laudos periciais do Instituto Médico Legal do Rio de Janeiro após autópsia, no entanto, descartaram a overdose. A causa mortis foi infarto do miocárdio.
      A notícia da morte precoce de Cássia, que vivia o melhor momento de sua carreira trabalhando em turnê o CD MTV Acústico, desolou amigos, parentes e fãs. A cantora deixou um filho, Francisco, de 7 anos e a companheira Maria Eugênia, com quem conviveu estavelmente por 14 anos.
Rebeldia em tom grave
      Cassia Rejane Eller não era mulher de meias palavras. Nem cantora de meio tom. Nunca negou o envolvimento com as drogas, declarava rasgadamente o amor pelo filho Chicão, assumia abertamente seu homossexualismo e berrava ao microfone com indiscutível autoridade. Sempre foi uma artista apoteótica no palco. Mas... Cassia era tímida.
      Filha de militar, Cássia Eller rodou os quatro cantos do país. Morou em Belo Horizonte, Pará, Brasília, São Paulo e Rio. Antes de cantar, fez um pouco de tudo. Foi garçonete, secretária e até ajudante de pedreiro. Uma das mais completas e talentosas cantoras de sua geração, a opção pela carreira artística aos 14 anos. Apaixonada por Beatles e Luiz Melodia, cantou em corais, se apresentou em trio elétrico e acabou desembocando no rock´n roll. Em 1990, lançou seu primeiro disco. Com sua irreverência em tom grave, foi adorada por nomes como Carlinhos Brown, Caetano Veloso, Ney Matogrosso e o parceiro em diversos sucessos Nando Reis, produtor dos dois últimos discos de Cássia - MTV Acústico (2001) e Com você... meu mundo ficaria completo (1999) álbum em que aposentou maneirismos para colocar - a pedido do filho que queria vê-la cantando como Marisa Monte - a melodia em primeiro lugar.

 

      Chicão, fruto da relação com o baixista Otavio Fialho, morto durante a gravidez da cantora, num acidente de carro - foi o grande projeto de Cassia: "Estou tentando passar mais tempo com o Chicão", disse, programando levar mais vezes o filho para a escola. Era do tipo supermãe. Punk e rebelde só por fora.

      2001, o ano que não terminou

      Em 2001, Cassia Eller viveu um momento único. Estava no auge de sua carreira. A começar pela irreverência contagiante com que conduziu sua apresentação no Rock in Rio 3 em janeiro. Depois veio a gravação do MTV acústico e a turnê concorrida, com bilheteria esgotada onde quer que Cássia se apresentasse. Uma produção musical intensa, em ascensão que, interrompida, deixou uma legião de fãs incrédulos.
      Quando o segundo sol chegar para realinhar a órbita dos planetas vai perceber que sem a voz de Cássia a tarefa ficou um pouco mais difícil...

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