Nas últimas semanas, a mídia registrou vários casos de acidentes de trânsito com mortes provocadas por motoristas embriagados. Foram presos e, graças à fiança, em seguida soltos. Alguns nem possuíam habilitação para dirigir.
O Brasil é o país da impunidade. As leis são feitas apenas para os pobres — que não têm dinheiro para pagar advogados e fianças. Da classe média para cima, nenhum assassino do volante se encontra preso. São 57 mortes por dia associadas ao alcoolismo.
Há intensa campanha contra o tabagismo e, no entanto, alcoolismo mata mais. É o terceiro fator de morte no mundo, precedido pelo câncer e doenças cardíacas. Por que não se proíbe publicidade de bebidas?
Os dados são alarmantes: 68,7% dos brasileiros ingerem álcool. Nos hospitais psiquiátricos, 90% das internações são de dependentes de álcool. Os motoristas bêbados são responsáveis por 65% dos acidentes de trânsito. E o Ministério da Saúde gasta, por ano, via SUS, mais de R$ 1 bilhão em tratamentos e internações causados pelo álcool.
Por que não se aplicam as leis de proibição do tabagismo ao álcool? Porque falta coragem de fechar a torneira do mar de dinheiro que as empresas de bebidas alcoólicas despejam na publicidade. E o mais grave: associa-se álcool a celebridades, como jogadores de futebol e cantores, que fascinam os mais jovens e atraem legião de fãs.
Nunca tive notícia de acidentes de trânsito causados por vício de fumar, agressão doméstica por aspirar fumaça de tabaco, internação psiquiátrica por dependência de cigarro. Todos nós, porém, conhecemos casos relacionados ao alcoolismo. E haja publicidade de cerveja no horário nobre! Para os jovens, a cerveja é a porta de entrada no consumo de bebidas etílicas.
Frei Betto é escritor, autor, em parceria com Marcelo Gleiser, de “Conversa sobre a fé e a ciência”
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