domingo, 16 de outubro de 2011

Política e Educação- A ignorância como cúmplice da corrupção

      João Luís de Almeida Machado Doutor em Educação pela PUC-SP; Mestre em Educação, Arte e História da Cultura pela Universidade Presbiteriana Mackenzie (SP); Professor Universitário e Pesquisador; Autor do livro "Na Sala de Aula com a Sétima Arte – Aprendendo com o Cinema" (Editora Intersubjetiva).



      Política (po.lí.ti.ca) sf (gr politiké) 1 Arte ou ciência de governar. 2 Arte ou ciência da organização, direção e administração de nações ou Estados. 3 Aplicação desta arte nos negócios internos da nação (política interna) ou nos negócios externos (política externa). 4 Orientação ou métodos políticos: Política de campanário. 5 Arte ou vocação de guiar ou influenciar o modo de governo pela organização de um partido, influenciação da opinião pública, aliciação de eleitores etc. 6 Prática ou profissão de conduzir negócios políticos. 7 Conjunto dos princípios ou opiniões políticas. 8 Astúcia, maquiavelismo.
      Educação (e.du.ca.ção) sf (lat educatione) 1 Ato ou efeito de educar. 2 Aperfeiçoamento das faculdades físicas intelectuais e morais do ser humano; disci­pli­na­mento, instrução, ensino. 3 Processo pelo qual uma função se desenvolve e se aperfeiçoa pelo próprio exercício: Educação musical, profissional etc. 4 Formação consciente das novas gerações segundo os ideais de cultura de cada povo. 5 Civilidade.

      Os conceitos acima apresentados, extraídos do dicionário Michaelis, têm como propósito esclarecer dois conceitos essenciais para a vida de qualquer cidadão brasileiro. Política, mesmo para aqueles que abominam as práticas espúrias normalmente associadas a essa parte de nossas existências; está no agir e também no não agir; no associar-se e igualmente no não aliar-se; no pensar e certamente, no agir por instintos ou por direcionamento alheio; no ato de votar conscientemente assim como no voto de protesto e na luta pelo direito de não ter que ir às urnas...
      Em nosso país, certamente política se parece muito mais com “maquiavelismo” que propriamente com “arte ou ciência de governar”. Para melhor esclarecimento de todos, “maquiavelismo” é uma injusta forma de definir a ação política, administrativa e governamental em que “os fins justificam os meios”, ou ainda, através da qual os interesses de poucos se sobrepõem aos da maioria.
     Nicolau Maquiavel, certamente um dos maiores expoentes do realismo político de todos os tempos, ousou dizer em “O Príncipe”, sua obra principal, livro de cabeceira de inúmeros políticos, inúmeras verdades pensadas e praticadas por todos (praticamente sem exceção) aqueles que freqüentam os gabinetes e ante-salas do poder estabelecido.
      O pensador italiano do século XVI destaca, por exemplo, que a ambição, quando motiva e leva os homens aos mais prestigiosos cargos e mais ricos patrimônios não parece ter fim e, em virtude disso, ocasiona uma luta sem fim por mais e melhores condições. Ao lermos nas entrelinhas percebemos então que, o que poderia ser percebido a princípio como algo natural ou mesmo bom para as pessoas, acaba originando comportamentos que excedem os limites da civilidade (termo associado à definição apresentada no Michaelis para educação).
      Quando Maquiavel destaca que os “príncipes” (governantes em geral) devem ser mais temidos que amados, já que as duas coisas ao mesmo tempo parecem ser impossíveis, a compreensão geral é a de que, por isso mesmo, e devido ao poder concentrado em suas mãos, compete aos donos do poder sensibilizar a população a partir de demonstrações de força que esclareçam a todos quem realmente manda...
      Em sistemas democráticos de governo, utilizando-se das mídias eletrônicas, os governantes descobriram que não apenas é possível conciliar o ser temido e o ser amado, como passaram a utilizar-se com enorme regularidade de práticas que lhes garantam, entre seus opositores e não simpatizantes, do “porrete”, enquanto, do outro lado, utilizam-se de pacotes de benefícios diretos para todos aqueles que são complacentes e partidários de suas ações.
      No Brasil, por exemplo, isso é facilmente perceptível quando analisamos dados como aquele que nos informa a rejeição do eleitorado aos políticos que investem pesadamente em educação, conforme pesquisa divulgada pela revista Época (mais detalhes na postagem “Educação ganha eleição?”, no blog Escolhendo a Pílula Vermelha). De acordo com esse levantamento, 70% dos prefeitos brasileiros que investiram em educação e, dessa forma, apostaram que os benefícios de uma escola de qualidade podem garantir um amanhã melhor para suas comunidades, não conseguiram se reeleger ou eleger seu sucessor...
      Por outro lado, 65% dos prefeitos que beneficiaram seus munícipes com mais vias públicas pavimentadas e obras e/ou benefícios sociais (como cestas-básicas, material escolar gratuito, remédios por preços módicos, salários adicionais...), foram agraciados com novos mandatos ou elegeram seus candidatos a sucessão.
      E é justamente nesses dados, que adicionados as breves reflexões sobre Maquiavel, ou ainda aos conceitos de política e educação, que repousam algumas conclusões tristes e sombrias quanto aos próximos anos de nosso país, caso não façamos algo em prol da decência, da lisura, da honestidade, da ética, da cidadania e da civilidade na política brasileira.
      A ignorância, a pobreza e a dependência da população são cúmplices da corrupção e, certamente, ajudam a alavancar as negociatas que enriquecem inúmeros políticos brasileiros. Não interessa a esses “senhores” melhorar, efetivamente a qualidade da educação brasileira. Isso significaria, no final das contas, uma população mais esclarecida, atuante, crítica e exigente. Qual político, em sã consciência, quer ver a comunidade auferindo as contas públicas e descobrindo os desvios das verbas através das compras superfaturadas e das licitações fraudadas em reuniões secretas, regadas a muito vinho importado cujos preços são impublicáveis para 90% da população brasileira...
      Ao definir-se educação como “formação consciente das novas gerações segundo os ideais de cultura de cada povo”, penso que fazemos a tarefa pela metade, pois não estamos trabalhando em prol de uma consciência plena – tanto no âmbito pessoal quanto, principalmente, no coletivo – além disso, creio que, talvez, os ideais de cultura de nosso povo tenham em seu âmago, a tolerância aos atos espúrios da política, a corrupção vil, ao comportamento corrompido e individualista, a busca pela fortuna mesmo que isso implique passar por cima de quem for...
      Quero acreditar, sinceramente, que o futuro pode ser muito melhor para todos. Temos sido surpreendidos por fatos que demonstram a evolução do país no que tange a sua vida econômica – o que tem gerado melhoria na qualidade de vida de milhões de pessoas. Mas, não podemos por esses ganhos, fechar os olhos aos desmandos que cerceiam a mais e mais pessoas o acesso ao saber proporcionado pela educação e que, todos sabemos, pode garantir ao país um futuro muito mais próspero do que o que se avizinha.
      Penso que “o aperfeiçoamento das faculdades físicas intelectuais e morais do ser humano” ou ainda o “disci­pli­na­mento, a instrução, o ensino” que conduzem a “civilidade” são de essencial importância para que a política seja, realmente, “arte ou ciência da organização, direção e administração de nações ou Estados” em prol de todos, ou seja, sem educação de qualidade, não há política na acepção da palavra que verdadeiramente desejamos...
      Obs.: E a luta contra a corrupção começa nos pequenos atos cotidianos de cada um. Não dar propina, respeitar as leis, ter paciência nas filas, votar com consciência, participar da educação dos filhos, cobrar serviços públicos de qualidade...

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