Por Jean de Menezes
A formação humana é um processo social. Educação não é mercadoria.
Duas afirmações clássicas, nos lábios e na pena daqueles que resistem diante da lógica da fábrica que não opera no mesmo sentido.
Na sociedade capitalista há uma forte preocupação com a informação, e, a educação é tratada como mercadoria, e mais, pode-se escolher o modelo que desejar, pois se vende de tudo um pouco.
Encontramos escolas, universidades de todas as cores, projetos de todos os tipos, professores e plataformas eletrônicas para as interações sociais mais sofisticadas! Nem precisa sair de casa, pois “temos” delivery. Nosso leitor poderia indagar: “mas assim mesmo não são relações sociais?”
É verdade que isso tudo representam relações sociais, mas trata-se de relações coisificadas, fetichizadas e estranhas.
A burocratização do trabalho docente atinge patamares estratosféricos. Cada vez mais o professor deixa de lado a sua função educativa para realizar os afazeres burocráticos. Não queremos dizer com isso que os registros, dos mais diversos, tipos não são importantes no trabalho docente, mas a centralidade burocrática secundariza aquilo que deveria ser o central: a formação humana.
A chamada reestruturação produtiva não se limitou às fábricas, o trabalho predominantemente intelectual também está sujeito a esta reestruturação da produção e no caso das ciências humanas chega atingir o ridículo.
Em todas as grandes áreas do conhecimento de acordo com a Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (CAPES) o trabalho intelectual deve apresentar uma produção em tempo determinado e procurar ultrapassar, se possível (bater as metas), a quantidade planejada. Quanto mais se produzir, maior será a qualificação, por exemplo, de um programa junto a CAPES.
É verdade que uma atividade deve ser planejada, ter seu cronograma, e procurar estabelecer o tempo para o seu desenvolvimento. Todavia, esta deveria ser uma prerrogativa daqueles que pesquisa, do pesquisador, do intelectual. Entretanto, não é assim que funciona.
A lógica de produção do conhecimento segue a mesma da indústria metalúrgica no que tange ao reprodutivismo. Os operários, neste caso o docente, deve produzir de acordo com as metas impostas por terceiros a todo vapor. Outra questão central, aqui, é quem determina o tempo de produção para o trabalhador intelectual.
O tempo da produção do conhecimento e da formação humana não é o mesmo tempo mecânico do relógio. A dimensão temporal é outra diante da produção do conhecimento.
Se considerarmos que a produção do conhecimento é uma relação social complexa, temos a inviabilidade de afirmarmos: “você tem um semestre para apresentar um artigo científico!”
Por quê?
Porque uma relação social exige interlocuções, apreciações, leituras em larga escala, verificações de hipóteses, reformulações, negações, reconsiderações, traduções, problematizações.
Mas como resolver nos marcos da atualidade que vivemos esta equação? Não há resolução eficaz, ao menos estruturalmente, de imediato. Então o que fazemos?
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