Brasileiro é nota 10 nos EUA
O Dia
Mestre de Petrópolis está entre os quatro finalistas do prêmio americano Professor do Ano
POR CHICO ALVES
Rio - Os americanos conhecerão em abril o vencedor do prêmio de melhor professor dos Estados Unidos. O anúncio será feito na Casa Branca, pelo próprio presidente Barack Obama. A relação dos quatro finalistas foi divulgada na última quinta-feira e nela há um nome em português capaz de enrolar a língua presidencial: Alexandre Lopes. Nascido em Petrópolis, Lopes, que reside em Miami, é o primeiro brasileiro a concorrer ao ‘Teacher of The Year’ (Professor do Ano). Ele espera tranquilo o resultado: “Já tenho a recompensa que esperava, dar aulas me faz feliz.”
Aos 43 anos, ele leciona na escola Carol City Elementary, para alunos com idades entre 3 e 5 anos. Metade deles tem autismo e a outra parte não apresenta problemas de desenvolvimento. “A sala de aula reflete minha filosofia social, a de uma sociedade inclusiva e sem preconceitos”, define Lopes. Muitos estudantes são imigrantes.
Na turma de Alex, metade dos alunos são autistas | Foto: Divulgação
O que seu método de ensino tem de tão especial, para ser notado em um país com 3 milhões de professores? “Uso música e dança. Através da percussão, os alunos conseguem distinguir onde começa e termina uma palavra”, explicou Lopes ao DIA. Ele também associa canções a técnicas de relaxamento.
O jeitão despojado, característico de quem é do Rio de Janeiro, ajudou na profissão. “Minha descontração facilitou o contato com os alunos e as suas famílias”, acredita. Para ele, criatividade tem a ver com o estilo de vida: “O brasileiro é muito versátil e talentoso. Precisamos acreditar no caráter único de nossa cultura”. É com essa confiança que ele espera chegar o dia do anúncio de Obama.
‘Sala de aula reflete a fé na inclusão’
Vivendo nos EUA há 18 anos, Alexandre Lopes virou professor por acaso. Era comissário de vôo quando aconteceu o atentado às torres gêmeas, em 11 de setembro de 2001. A empresa deu licença aos funcionários. Ele aproveitou e entrou na faculdade de Educação, especializou-se em alunos especiais e criou sua própria pedagogia. Foi para a lista dos top 50 dos EUA ao ser escolhido como o melhor professor da Flórida, em julho. Na quinta-feira, se tornou um dos quatro finalistas.
A descontração característica de quem nasce no Rio de Janeiro ajudou na profissão?
Sim. Porém, descontraído ou não, sei sempre dizer o porquê de fazer o que estou fazendo. Saber a teoria por trás de minhas ações fez com que a descontração fosse respeitada.
No Brasil ainda se discute se alunos especiais devem aprender em salas de aulas regulares. O que você acha?
Acredito na inclusão. Quero uma sociedade que ofereça um lugar a todos os seus membros, indiscriminadamente. A sala de aula tem que refletir isso. Para isso dar certo, é preciso ter o apoio do governo e da sociedade.
Ficou surpreso por ter ficado entre os quatro melhores mestres dos EUA e concorrer a melhor do país?
Nunca imaginei que chegaria onde cheguei. Quando optei por fazer o que faço, procurei algo que me fizesse feliz. Não esperava reconhecimento nenhum.
Tem algum recado para os professores do Rio de Janeiro?
Meus colegas do Rio têm tarefa extra: preparar os jovens para mostrar durante a Copa e as Olimpíadas que se o Brasil já é um sucesso hoje, quando eles tomarem a dianteira, será inimaginavelmente melhor.
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