No artigo “A Receita para Melhorar a Educação Pública”, reproduzi a palestra do professor Celso Antunes, proferida no XI Congresso de Trabalhadores em Educação de Roraima, enumerando os itens encontrados nas Escolas públicas chamadas de “ilhas de excelência”.
Concluí o texto afirmando que os governos devem refletir sobre como implantá-los em todas as Escolas públicas do País. Neste artigo, apresento sugestões de como fazê-lo com base nas minhas próprias aspirações de professor com mais de 20 anos de magistério.
Para que tenhamos gestores Escolares competentes, com o perfil descrito por Antunes, é necessário, primeiro, que se mude o atual modelo de gestão. Urge cumprir a Lei 9394/96, que prevê uma gestão democrática, implantando eleição direta com critérios predefinidos que impeçam manipulações político-partidárias e a eleição de pessoas sem a menor qualificação profissional.
Em segundo lugar, é preciso que o gestor passe por uma avaliação periódica de desempenho, a exemplo do que já ocorre com o professor, e receba treinamento para corrigir eventuais falhas administrativas.
Para que tenhamos professores criativos e eficientes, capazes de envolver até mesmo aqueles alunos mais indisciplinados e/ou indiferentes, é necessário que se mude a grade curricular dos cursos de formação docente, transferindo a ênfase da teoria para a prática pedagógica, com suporte metodológico inovador e diversificado.
É preciso, por conseguinte, que o professor receba valorização profissional, com alívio da carga horária, salário igual ou superior, por exemplo, ao dos profissionais de carreira do Judiciário, financiamento de sua formação continuada e condições dignas de trabalho.
Para que os funcionários de apoio atuem como educadores, é necessário que sejam valorizados com boa formação acadêmica e com planos de carreira promissores.
É inadmissível que os serviços de apoio técnico nas Escolas sejam terceirizados ou que os profissionais concursados recebam um salário mínimo ou pouco mais que isso, como vem ocorrendo em todos os níveis de governo.
Para que os pais participem da vida Escolar de seus filhos, não basta haver bons gestores, excelentes professores e eficientes funcionários de apoio, é necessário também que a conjuntura social e econômica seja favorável. Os governos têm a obrigação de fomentar a geração de emprego e renda, ao invés de manter programas assistencialistas.
A carência financeira impele pais a buscarem mais de um subemprego para garantir, pelo menos, duas refeições diárias aos filhos. É claro que isso não justifica a alienação em relação ao acompanhamento da vida Escolar, mas explica, em muitos casos.
Para que a avaliação seja completa e ampla, é necessário que o professor tenha boa formação – isso já foi discutido no terceiro parágrafo. Mas é preciso também que se defina um padrão mínimo de qualidade para cada série e um sistema eficaz de acompanhamento dos alunos que apresentem deficiência de aprendizagem, a fim de promover o nivelamento das turmas.
Não é concebível, por exemplo, que um aluno conclua a quarta série do ensino fundamental sem conhecer as quatro operações e sem saber ler e escrever um simples texto.
Como se pode depreender, não dá para transferir os cinco itens de excelência para todas as Escolas por decreto, como num passe de mágica. É preciso, acima de tudo, vontade política.
Sem dúvida que isso passa também pelo combate à corrupção, pelo aumento do percentual do PIB destinado à Educação, de 5% para 10%; pela distribuição justa dos recursos nos três níveis de ensino (a maior parte do dinheiro hoje vai para o nível superior) e pelo equilíbrio de investimentos entre os três níveis de governo (o governo federal é o que mais arrecada e o que menos investe).
Professor Antonio de Souza Matos - matoseluiza@yahoo.com.br
Fonte: blog Escola Pra Quê.
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