quarta-feira, 10 de abril de 2013

Passeios perigosos

Maria Lucia Dahl
Jornal do Brasil


Onde é possível  levar um turista estrangeiro pra se divertir no Rio, hoje em dia?
Minha amiga , Jacqueline, me ligou de Paris, onde nos conhecemos quando morei lá.
Quando fui morar em Roma,  Jacqueline também ia me visitar até que muitos anos depois,  seu filho que parece o Alain Delon, de tão lindo, veio pra cá e se casou com uma brasileira que mora numa comunidade onde ele aconheceu.
Muita confusão causou esse casamento depois do filho que tiveram numa hora em que ele teve a proposta de um trabalho importante na França.
Eu tentava  ajudar Jacqueline, ligando pra ele aqui no Rio e dando notícias à sua mãe que continuava na França. 
Agora ela me ligou que queria vir pra cá pra se divertir um pouco no Rio e disse que chegaria no dia seguinte.
Meu carro foi roubado já há algum tempo. Pensei em pegar o carro de uma amiga emprestado para passearmos pelo Parque Nacional da Tijuca pra ver, como fazíamos antigamente, a Cascatinha, a capela Mayrink, o Açude da Solidão e pensei até no Restaurante Esquilo (que nem sei se ainda existe), pra tomarmos uns drinques, lembrando de antigamente. Já estava me animando a fazer um programa completamente diferente, quando vi na TV, que ali, onde eu pretendia me divertir, tinham assaltado um grupo de alemães. Desisti de um lugar tão perigoso, e, em matéria de visitas antigas, do meu tempo de criança, pensei nas Paineiras onde passava algumas férias no hotel Paineiras, que também não existe mais, mas podíamos dar uma volta ali ao redor, onde a coisa mais perigosa que vi quando era pequena, foi uma cobra, parada na minha frente. Como estivesse esticada no meio da estrada, achei que fosse um galho de árvore e fiquei em dúvida se pegava-o ou não.
Mamãe, que estava um pouco atrás de mim, com minha irmã, me olhou com um olhar tão tenebroso, muda, com medo que eu fizesse algum ruído e a cobra pulasse em mim, que pela sua expressão, percebi que aquilo era uma cobra e que eu tinha que ficar como uma estátua até ela passar e me liberar pra sair correndo e ir brincar com minha irmã.
Mas desisti de Paineiras, não por causa da cobra, que hoje seria a coisa mais inocente que pode haver, mas por que o jornal da TV continuou a dar suas  notícias horríveis, dizendo que uma outra van de turistas foi assaltada ali e que estupraram uma americana que estava com eles.
Mesmo assim continuava querendo  aproveitar a ideia de pegar o carro com uma amiga e passear pelo Rio com o pretexto de me divertir com Jacqueline.
Então pensei em Petrópolis, que tem tudo pra um turista: vista, Museu, Palácio de Cristal, Casa de Santos Dumont, Quitandinha, e infância pairando no ar, mas tive que desistir , pois disse a TV que o centro de Petrópolis tinha desabado com a chuva forte e que estragou muito a área perto de Quitandinha.
Depois de contar isso tudo pra Jacqueline no dia seguinte, e ter vontade de jogar pela janela aquele aparelho de TV que só me deu notícias horríveis, ela ficou pasma e sugeriu:
- Então vamos até o Saara comprar tecidos pra eu fazer o figurino da peça que estou trabalhando em Paris.
Tive de contar pra ela, que através da mesma TV tenebrosa que só dá notícias péssimas,  que o Saara tinha pegado fogo.
Então resolvemos tomar um vinho lá em casa, sem carro e sem cidade, e combinar uma ida minha pra Paris.
Será que pode-se, ao menos chegar ao aeroporto, aqui no Rio, sem correr risco de vida?

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