sábado, 20 de abril de 2013

Café Literário Antônio Roberto Fernandes

      Confira as fotos do café literário realizado na Casa de Cultura Poeta Antônio Silva, em Conselheiro Josino, no dia 17 de abril de 2013.

       
                     Edinho, presidente da casa de cultura, recebendo os participantes do café literário


Exposição dos trabalhos feitos pelos alunos das aulas de artesanato.







Vera, coordenadora das casas de cultura, e Aldinei, apresentador do evento.


Os músicos Sr. Demerval e Sr. Eduardo.



Participantes do café literário.





quarta-feira, 10 de abril de 2013

Café Literário





        Convidamos a todos para o Café Literário da Casa de Cultura Poeta Antônio Silva, em Conselheiro Josino, que será realizado dia 17 de abril, às 19 horas. 

Passeios perigosos

Maria Lucia Dahl
Jornal do Brasil


Onde é possível  levar um turista estrangeiro pra se divertir no Rio, hoje em dia?
Minha amiga , Jacqueline, me ligou de Paris, onde nos conhecemos quando morei lá.
Quando fui morar em Roma,  Jacqueline também ia me visitar até que muitos anos depois,  seu filho que parece o Alain Delon, de tão lindo, veio pra cá e se casou com uma brasileira que mora numa comunidade onde ele aconheceu.
Muita confusão causou esse casamento depois do filho que tiveram numa hora em que ele teve a proposta de um trabalho importante na França.
Eu tentava  ajudar Jacqueline, ligando pra ele aqui no Rio e dando notícias à sua mãe que continuava na França. 
Agora ela me ligou que queria vir pra cá pra se divertir um pouco no Rio e disse que chegaria no dia seguinte.
Meu carro foi roubado já há algum tempo. Pensei em pegar o carro de uma amiga emprestado para passearmos pelo Parque Nacional da Tijuca pra ver, como fazíamos antigamente, a Cascatinha, a capela Mayrink, o Açude da Solidão e pensei até no Restaurante Esquilo (que nem sei se ainda existe), pra tomarmos uns drinques, lembrando de antigamente. Já estava me animando a fazer um programa completamente diferente, quando vi na TV, que ali, onde eu pretendia me divertir, tinham assaltado um grupo de alemães. Desisti de um lugar tão perigoso, e, em matéria de visitas antigas, do meu tempo de criança, pensei nas Paineiras onde passava algumas férias no hotel Paineiras, que também não existe mais, mas podíamos dar uma volta ali ao redor, onde a coisa mais perigosa que vi quando era pequena, foi uma cobra, parada na minha frente. Como estivesse esticada no meio da estrada, achei que fosse um galho de árvore e fiquei em dúvida se pegava-o ou não.
Mamãe, que estava um pouco atrás de mim, com minha irmã, me olhou com um olhar tão tenebroso, muda, com medo que eu fizesse algum ruído e a cobra pulasse em mim, que pela sua expressão, percebi que aquilo era uma cobra e que eu tinha que ficar como uma estátua até ela passar e me liberar pra sair correndo e ir brincar com minha irmã.
Mas desisti de Paineiras, não por causa da cobra, que hoje seria a coisa mais inocente que pode haver, mas por que o jornal da TV continuou a dar suas  notícias horríveis, dizendo que uma outra van de turistas foi assaltada ali e que estupraram uma americana que estava com eles.
Mesmo assim continuava querendo  aproveitar a ideia de pegar o carro com uma amiga e passear pelo Rio com o pretexto de me divertir com Jacqueline.
Então pensei em Petrópolis, que tem tudo pra um turista: vista, Museu, Palácio de Cristal, Casa de Santos Dumont, Quitandinha, e infância pairando no ar, mas tive que desistir , pois disse a TV que o centro de Petrópolis tinha desabado com a chuva forte e que estragou muito a área perto de Quitandinha.
Depois de contar isso tudo pra Jacqueline no dia seguinte, e ter vontade de jogar pela janela aquele aparelho de TV que só me deu notícias horríveis, ela ficou pasma e sugeriu:
- Então vamos até o Saara comprar tecidos pra eu fazer o figurino da peça que estou trabalhando em Paris.
Tive de contar pra ela, que através da mesma TV tenebrosa que só dá notícias péssimas,  que o Saara tinha pegado fogo.
Então resolvemos tomar um vinho lá em casa, sem carro e sem cidade, e combinar uma ida minha pra Paris.
Será que pode-se, ao menos chegar ao aeroporto, aqui no Rio, sem correr risco de vida?

segunda-feira, 1 de abril de 2013

Papa Francisco: inaugura o terceiro milênio?

Jornal do Brasil
Leonardo Boff


O primeiro milênio do Cristianismo foi marcado pelo paradigma da comunidade. As igrejas possuíam relativa autonomia com seus ritos próprios: a ortodoxa, a copta, a ambrosiana de Milão, a moçárabe da Espanha e outras. Veneravam seus próprios mártires e confessores e tinham suas teologias como  se vê na florescente cristandade do norte da África com Santo Agostinho, São Cipriano e o leigo teólogo Tertuliano. Elas se reconheciam  mutuamente e, embora em Roma já se esboçasse uma visão mais jurídica, predominava a presidência na caridade.
O segundo milênio foi caracterizado pelo paradigma da Igreja como sociedade perfeita e hierarquizada: uma monarquia absolutista centrada na figura do Papa como suprema cabeça (cefalização), dotado de poderes ilimitados e, por fim, infalível quando se declara como tal em assuntos de fé e moral. Criou-se o Estado Pontifício, com exército, com sistema financeiro e legislação que incluía a pena de morte. Criou-se um corpo de peritos da instituição, a Cúria Romana, responsável pela administração eclesiástica mundial. Esta centralização gerou a romanização de toda a cristandade. A evangelização da América Latina, da Ásia e da África se fez no bojo de um mesmo processo de conquista colonial do mundo e significava um transplante do modelo romano, praticamente anulando a encarnação nas culturas locais. Oficializou-se a separação estrita entre o clero e os leigos. Estes, sem nenhum poder de decisão (no primeiro milênio participavam na eleição dos bispos e do próprio Papa), foram juridicamente e de fato infantilizados e mediocrizados.
Firmaram-se os costumes palacianos dos  padres, bispos, cardeais e Papas. A títulos de poder dos imperadores romanos, a começar pela de Papa e a de Sumo Pontífice, passou ao bispo de Roma. Os cardeais, príncipes da Igreja, se vestiam como a alta nobreza renascentista e isso permaneceu até os dias de hoje para escândalo de não poucos cristãos habituados a ver Jesus pobre e homem do povo, perseguido, torturado e executado na cruz.
Este modelo de Igreja, tudo indica, se encerrou com a renúncia de Bento XVI, o último Papa deste modelo monárquico, num contexto trágico de escândalos que afetaram o núcleo da credibilidade do anúncio cristão.
A eleição do Papa Francisco, vindo “do fim do mundo” como ele mesmo se apresentou, da periferia da cristandade, do Grande Sul, onde vivem 60% dos católicos, inaugurará o paradigma eclesial do Terceiro Milênio: a Igreja como vasta rede comunidades cristãs, enraizadas nas diferentes culturas, algumas mais ancestrais que a ocidental como a chinesa, indiana e japonesa e nas culturas tribais de África e comunitárias da América Latina. Encarna-se também na cultura moderna dos países tecnicamente avançados, com uma fé vivida também em pequenas comunidades. Todas estas encarnações têm algo em comum: a urbanização da humanidade pela qual mais de 80% da população vive em grandes conglomerados de milhões e milhões de habitantes.
Neste contexto será praticamente impossível de se falar em paróquias territoriais mas em comunidades de vizinhança de prédios ou de ruas próximas. Esse cristianismo terá como protagonistas os leigos, animados por padres, casados ou não ou por mulheres-sacerdotes e bispos ligados  mais à espiritualidade do que à administração. As Igrejas terão outros rostos.
A reforma não se restringirá à Cúria Romana em estado calamitoso mas se estenderá a toda a institucionalidade da Igreja. Talvez somente com a convocação de um novo Concílio com representantes de toda a cristandade dará ao Papa a segurança e as linhas mestras da Igreja do Terceiro Milênio. Que não lhe falte o Espírito.